Quadro Aniversariantes do dia

sexta-feira, 21 de abril de 2017

A Segunda Guerra pelos olhos de seu Antônio Simão

Livro lançado na próxima sexta-feira, 21, resgata as memórias de um sertanejo que foi para a Itália nos anos 1940
Quando estava prestes a completar 80 anos, Antônio Simão do Nascimento começou a escrever constantemente em um caderninho pautado. Curioso, o filho, José Clewton certa vez resolveu perguntar ao pai do que se tratavam aquelas linhas que tanto lhe tomavam a concentração após o almoço. Ele, sempre de poucas palavras, explicou que “não era nada demais”, apenas “algumas lembranças”. Mas quando finalmente, José Clewton teve acesso à leitura, se deparou com relatos cronológicos de um sertanejo que foi à Segunda Guerra Mundial e que, depois, trabalhou durante anos na construção de rodovias no Ceará. O ano era 2001, quando ele fez 80 anos; em 2003, seu Antônio Simão partiu do convívio dos seus familiares. E, agora, 16 anos depois que foram escritas aquelas lembranças, a família lança o livro “Memórias do meu Passado”, na próxima sexta-feira, 21 de abril, às 19h, no Restaurante e Tapiocaria da Avó, localizada na Rua Vereador Manoel Coringa de Lemos, 488, na Vila de Ponta Negral, Natal. O título será comercializado no valor de R$ 50, com o detalhe de ser vendido apenas em espécie.

O livro acabou sendo estruturado com algumas divisões: inicialmente contém os relatos de Antônio Simão e depois é seguido de textos dos filhos José Clewton, Vânia Lúcia do Nascimento e da neta Fabiana do Nascimento Pereira, nos quais os relatos são inseridos em contextos históricos, sociais e arquitetônicos.

Como é arquiteto, professor da UFRN e artista plástico, José Clewton também imprimiu nas páginas da obra alguns desenhos inspirados em postais guardados dentro de um álbum de fotografias do pai. “Sempre tivemos uma relação muito forte com essas memórias, e acabamos incorporando-as às nossas atividades, como profissionais e como acadêmicos. Nesse sentido, entendemos que os que nós - filhos e netos - escrevemos e incorporamos nessa publicação são desdobramentos desse seu legado”, explica.

Para Clewton pode ser dada inicialmente uma ênfase ao fato de seu Simão ter sido um “febiano” e tratar dessa experiência no livro nos anos 1940. Mas o livro vai mais além: “Na fala do seu Simão está presente a história do homem do sertão, temente a Deus, bem como podemos traçar relações com o período de desenvolvimentismo pelo qual passou o país”, diz ele. E na apresentação de George Ferreira, a corroboração: “Há muitas maneiras de se contar as histórias de um país. Pela economia, pela política, pela arte, pela arquitetura, pelas mudanças de hábitos e costumes (...). Mas não podemos abrir mão de olhar com carinho para as histórias das pessoas, no que têm de representativo e de singular”.

Professor de Teoria e História da Arquitetura e Urbanismo Clewton utiliza o material como fonte documental de algumas de suas aulas. E no livro, ele faz algumas releituras de postais guardados pelo pai em um álbum de fotografias da época. “No texto falo sobre essa minha relação com o álbum de fotografias e postais trazidos por meu pai, e chamo atenção tanto para a riqueza das imagens como fonte documental, como também pelo valor simbólico/afetivo delas para mim”.

Alguns trechos do livro:

1945 - "Continuando a viagem, chegamos no Rio de Janeiro na manhã do dia dois de janeiro. Já pela madrugada começou a se avistar a cidade, ficando cada vez mais visível a estátua do Cristo Redentor (...). Na noite do dia 21, após dezessete dias ininterruptos de viagem, chegamos a Nápoles. Por coincidência no dia da tomada do Monte Castelo pelas forças brasileiras, que antes do anoitecer já haviam dominado o local".

1926 - "Foi quando comecei a despertar para a realidade. O primeiro acontecimento que me marcou e que não consegui esquecer foi na época do inverno: chovia muito à noite e acordei com um barulho enorme. Havia muitos trovões e relâmpagos. O quarto onde eu dormia era vizinho à cozinha. E com o peso da chuva, no momento de um trovão, uma parede que ficava ao lado da biqueira, de taipa, arriou. Assombrado, corri no escuro alarmando as outras pessoas da casa (...)".

 1944 – “Antes de passar à praça pronta, me inscrevi para a seleção do CCC – Curso de Candidatos a Cabo. Fui aprovado em segundo lugar em uma turma de trinta e seis candidatos. Em março, passei a pronto e, em julho, concluí o curso de cabo e fui promovido imediatamente. A guerra na Itália continuava cada vez mais assoladora e o Brasil cada vez mais comprometido. No dia dois de julho foi enviado o primeiro escalão da FEB para a Itália (...)”.

Memórias do Meu Passado – lançamento

Dia: 21, sexta-feira

Hora: 19h

Local: Tapiocaria da Avó, na Vila de Ponta Negra

Preço: R$ 50 (somente em espécie)

Sheyla de Azevedo Andrade
Jornalista Freelancer e Escritora. Especializada em Jornalismo Cultural, redação de impresso, TV, produção, redação de projetos, assessora de comunicação e imprensa e estudante de Psicanálise.

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