“Fé em Deus que ele é justo!
Ei, irmão, nunca se esqueça
Na guarda, guerreiro, levanta a cabeça, truta
Onde estiver, seja lá como for
Tenha fé, porque até no lixão nasce flor”
Quando começa a tocar, a letra dos Racionais é imediatamente acompanhada por alguns dos nove adolescentes reunidos para a oficina de rima, realizada na terça-feira (3). Eles conhecem, gostam e facilmente se envolvem com o hip-hop, que vai voltar ao Centro de Atendimento Socioeducativo em Semiliberdade - Casemi Nazaré, em Natal-RN, também por meio do break e do slam.
As aulas fazem parte do projeto de intervenção das estagiárias de Serviço Social, Ana Júlia e Camila, e foram viabilizadas em parceria entre a Fundação de Atendimento Socioeducativo do Rio Grande do Norte (Fundase/RN) e o projeto Escola de Hip Hop, da Jokker Produtora, além do projeto de extensão da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) Batalha da Gruta.
“A partir das observações, percebemos baixo engajamento nas atividades coletivas da unidade. Uns não queriam participar e outros voltavam para os alojamentos antes de acabar. Talvez isso acontecesse pela didática utilizada. Vimos também que eles gostavam muito de música e, quando conhecemos a Batalha da Gruta, pensamos que poderiam nos auxiliar com um projeto”, explicou a estudante Ana Júlia, detalhando que o objetivo da iniciativa é fomentar o protagonismo juvenil por meio da cultura, como forma de participação social.
“Trouxemos o hip-hop como esse instrumento. Fizemos oficina introdutória, trazendo depoimentos de artistas em documentários, mostrando como o movimento pode auxiliar nesse processo”, completou Camila.
Diretora geral da Escola, Adriana Sckaff, comentou que o grupo já pensava em contribuir com a socioeducação. “Depois desse primeiro contato, a gente quer adaptar o projeto e fazer outras ações. É algo que já faz parte da realidade deles e um dos propósitos da escola é humanizar o hip-hop para as pessoas que já consomem.”, comentou Adriana, que também é estudante de Letras.
Os oficineiros, Santos e Sabino, apresentaram história e elementos do hip-hop, com ênfase nas rimas que compõem o rap. Estudantes das graduações de Letras e Audiovisual na UFRN, os jovens deram uma aula de português na linguagem dos socioeducandos, que aprenderam a diferença entre rimas emparelhadas (AABB), alternadas (ABAB) e interpoladas (ABBA), com direito a improvisação dos professores em cada exemplo.
“A gente conseguiu se conectar com eles. Essa é a parte mais importante da educação popular, de Paulo Freire, que tem como base a realidade do estudante. O fazer é associado à vivência da pessoa para que gere significado e simbolicamente transforme a vida dela”, avaliou Santos, que, junto com Sabino, chamou atenção para o caráter político das composições.
“Fala muito sobre crime, mas não como apologia. No hip-hop, você pode cantar a sua realidade e pode cantar um desejo para o futuro. Vocês estão aqui agora e depois o que vão fazer?”, sugeriu Sabino, despertando a reflexão em novos projetos de vida, enquanto convidou os adolescentes a pegarem lápis e papel para escreverem e cantarem seus próprios versos, como ensinaram os Racionais: “Histórias, registros e escritos: não é conto, nem fábula, lenda ou mito.”
Fotos: Isabela Santos
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