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domingo, 15 de abril de 2012

Reflexão do dia.

Reflitam!  O trem atravessava sacolejando os subúrbios de Tóquio numa modorrenta tarde de primavera.  Um dos vagões estava quase vazio: apenas algumas mulheres e idosos e um jovem lutador de Aikidô.  O jovem olhava, distraído, pela janela, a monotonia das casas sempre iguais e dos arbustos cobertos de poeira.  Chegando a uma estação as portas se abriram e, de repente, a quietude foi rompida por um homem que entrou cambaleando, gritando com violência palavras sem nexo.  Era um homem forte, com roupas de operário. Estava bêbado e imundo.  Aos berros, empurrou uma mulher que carregava um bebê ao colo e ela caiu sobre uma poltrona vazia. Felizmente nada aconteceu ao bebê.  O operário furioso agarrou a haste de metal no meio do vagão e tentou arrancá-la. Dava para ver que uma das suas mãos estava ferida e sangrava.  O trem seguiu em frente, com os passageiros paralisados de medo e o jovem se levantou.  O lutador de Aikidô estava em excelente forma física. Treinava oito horas todos os dias, há quase três anos.  Gostava de lutar e se considerava bom de briga. O problema é que suas habilidades marciais nunca haviam sido testadas em um combate de verdade. Os alunos são proibidos de lutar, pois sabem que Aikidô é a arte da reconciliação.  Aquele cuja mente deseja brigar perdeu o elo com o Universo.  Por isso o jovem sempre evitava envolver-se em brigas, mas no fundo do coração, porém, desejava uma oportunidade legítima em que pudesse salvar os inocentes, destruindo os culpados.  Chegou o dia! Pensou consigo mesmo. Há pessoas correndo perigo e se eu não fizer alguma coisa é bem possível que elas acabem se ferindo.  O jovem se levantou e o bêbado percebeu a chance de canalizar sua ira.  Ah! Rugiu ele. Um valentão! Você está precisando de uma lição de boas maneiras!  O jovem lançou-lhe um olhar de desprezo.  Pretendia acabar com a sua raça, mas precisava esperar que ele o agredisse primeiro, por isso o provocou de forma insolente.  Agora chega! Gritou o bêbado. Você vai levar uma lição. E se preparou para atacar.  Mas, antes que ele pudesse se mexer, alguém deu um grito: Hei!  O jovem e o bêbado olharam para um velhinho japonês que estava sentado em um dos bancos.  Aquele minúsculo senhor vestia um quimono impecável e devia ter mais de setenta anos...  Não deu a menor atenção ao jovem, mas sorriu com alegria para o operário, como se tivesse um importante segredo para lhe contar.  Venha aqui. - Disse o velhinho, num tom coloquial e amistoso. Venha conversar comigo. - Insistiu, chamando-o com um aceno de mão.  O homenzarrão obedeceu, mas perguntou com aspereza: Por que diabos vou conversar com você?  O velhinho continuou sorrindo. O que você andou bebendo? Perguntou, com olhar interessado.  Saquê. - Rosnou de volta o operário. - E não é da sua conta!  Com muita ternura, o velhinho começou a falar da sua vida, do afeto que sentia pela esposa, das noites que sentavam num velho banco de madeira, no jardim, um ao lado do outro.  Ficamos olhando o pôr-do-sol e vendo como vai indo o nosso caquizeiro, comentou o velho mestre.  Pouco a pouco o operário foi relaxando e disse: É, é bom. Eu também gosto de caqui...  São deliciosos. - Concordou o velho, sorrindo. E tenho certeza de que você também tem uma ótima esposa.  Não, falou o operário. Minha esposa morreu.  Suavemente, acompanhando o balanço do trem, aquele homenzarrão começou a chorar.  Eu não tenho esposa, não tenho casa, não tenho emprego. Eu só tenho vergonha de mim mesmo.  Lágrimas escorriam pelo seu rosto. E o jovem estava lá, com toda sua inocência juvenil, com toda a sua vontade de tornar o mundo melhor para se viver, sentindo-se, de repente, o pior dos homens.  O trem chegou à estação e o jovem desceu. Voltou-se para dar uma última olhada. O operário escarrapachara-se no banco e deitara a cabeça no colo do velhinho, que afagava com ternura seus cabelos emaranhados e sebosos.  Enquanto o trem se afastava, o jovem ficou meditando... O que pretendia resolver pela força foi alcançado com algumas palavras meigas. E aprendeu, através de uma lição viva, a arte de resolver conflitos.  Com base em conto do livro Histórias da alma, histórias do coração, de Christina Feldman e Jack Kornfield, ed. Pioneira. Velho Sábio.

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