A faixa que compreende os municípios de Senador Georgino Avelino, Tibau do Sul, Baía Formosa e Nísia Floresta é a região de maior incidência de desova de tartaruga do Atlântico Sul.
Nas primeiras horas da manhã desta quinta-feira (10), a equipe do Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente - Idema esteve em visita técnica para acompanhar uma soltura de filhotes de tartarugas-de-pente, na Praia das Minas, localizada em Tibau do Sul. Periodicamente, as pessoas têm a oportunidade de acompanhar a atividade realizada com os filhotes da espécie, que utiliza diversas praias do RN para concluir o ciclo reprodutivo. Hoje, cerca de 50 tartarugas bebês saíram da areia em direção ao mar.
A Praia das Minas está inserida na Área de Proteção Ambiental Bonfim-Guaraíra (APABG), uma Unidade de Conservação Estadual administrada pelo Idema. No litoral do Rio Grande do Norte, essa é uma das praias que mais atrai as tartarugas, que vão ao local realizar a desova e, posteriormente, o nascimento dos filhotes, quando chega o período certo para eclosão dos ovos.
O diretor-geral do Idema, Leon Aguiar e a Secretária de Meio Ambiente de Tibau do Sul, Laíra Sousa, estiveram presentes na ação, que também contou com a participação de alguns populares, membros do Núcleo de Gestão de Unidades de Conservação do Idema (NUC), representantes da Prefeitura e do Projeto Tamar.
De acordo com o pesquisador e membro do Projeto Tamar desde 1988, Eduardo Lima, as tartarugas escolhem áreas favoráveis à desova, considerando condições como áreas pouco habitadas, umidade, textura da areia e temperatura, para poderem ter o máximo de geração de filhotes. A tartaruga-de-pente é criticamente ameaçada de extinção.
O local visitado nesta quinta-feira, faz parte da maior área de ninhos de tartaruga-de-pente do litoral potiguar, considerado uma área de estudo integral. De acordo com o pesquisador, a faixa que compreende os municípios de Senador Georgino Avelino, Tibau do Sul, Baía Formosa e Nísia Floresta é a região de maior incidência de desova de tartaruga do Atlântico Sul.
Eduardo Lima relatou sobre as ameaças no local e fez um apelo para que a população repense suas atitudes perante à Natureza. "Essa área sofre muito com o tráfego de veículos, gerando um grande problema nesse processo de conservação da espécie. Fazemos um pedido para a preservação dessa área e para muitas outras onde ocorre desova de tartaruga. De maneira bastante impensada, algumas pessoas pegam os tubos - fixados na areia para identificação de ninho, para apoiar varas de pescar, fazer trave de futebol e pendurar sacolas. É realmente triste ver que muita gente não se importa e não pensa que toda ação produz uma reação, interferindo diretamente na manutenção do ecossistema", relatou.
Em 4km de praia, na Praia das Minas, existem 129 ninhos, monitorados pelo Projeto Tamar. Em toda a área, que compreende mais outras duas praias, em aproximadamente 19km existem 525 ninhos. "Estamos no auge da temporada", disse.
Em Tibau do Sul, a região que compreende as praias do Madeiro, Cacimbinha e Baía dos Golfinhos é uma área que tem um maior sucesso de eclosão. No Rio Grande do Norte, de forma geral, a temporada reprodutiva inicia em meados de novembro, com as primeiras desovas, e se estende até junho, com o nascimento dos últimos filhotes. O pico reprodutivo ocorre nos meses de fevereiro e março. Durante esse período é redobrado o cuidado com a proteção desses animais.
Para o diretor-geral do Idema, Leon Aguiar, o trabalho de proteção e conservação da espécie é uma missão de todos nós. “Fazemos parte da Natureza e a responsabilidade de zelar pelo meio ambiente é individual e coletiva. O trabalho realizado pelo Projeto Tamar é fundamental para a sobrevivência da tartaruga-de-pente no território brasileiro, mas ele não é suficiente sem a sensibilização e a colaboração efetiva das pessoas”, comentou o diretor.
Ainda de acordo com o diretor, essas espécies são afetadas pelas mudanças climáticas e a tendência é que a cada geração que se passa, as pessoas compreendam a relevância desse tipo de trabalho. “Cada interferência que fazemos na cadeia alimentar afeta outras espécies, então as tartarugas precisam ser mantidas dentro de um equilíbrio. Alguns trechos não podem ter tráfego de veículo porque um simples rastro impede que a tartaruga se desloque até a praia e isso é um problema muito grande. Vamos continuar nossos projetos e ações de educação ambiental e, cada vez mais, nos aproximar e auxiliar na execução desse tipo de trabalho que só tem a contribuir com o meio ambiente”, relatou.
A secretária Municipal de Meio Ambiente de Tibau do Sul criou bloqueios com estacas de madeira para impedir o tráfego de veículos automotores. "O que precisamos é trabalhar em conjunto, sociedade e poderes públicos. Aqui, além da colocação dos bloqueios, fizemos a sinalização com a colocação de placas em parceria com a iniciativa privada. A associação de hotéis e pousadas de Tibau do Sul compreendem a importância dessa unicidade para mantermos nossa biodiversidade e o turismo de forma sustentável", disse Laíra Sousa.
Além de acompanhar a soltura das tartarugas ao mar, o grupo foi à praia de Cacimbinha para verificar outros pontos que possuem ninho. Logo após, o diretor Leon Aguiar vistoriou a obra do Ecoposto do Parque Estadual Mata da Pipa (PEMP) e da sede administrativa da APA Bonfim-Guaraíra, em Nísia Floresta.
Projeto Tamar
A Fundação Projeto Tamar atua no litoral brasileiro desde a década de 80 com a missão de promover a recuperação das tartarugas marinhas, desenvolvendo ações de pesquisa, conservação e inclusão social. Atualmente, no Rio Grande do Norte, o Projeto busca parcerias para dar continuidade ao monitoramento. Um dos grandes desafios é a contratação de profissional. Em boa parte do Litoral Sul, o pesquisador Eduardo Lima faz praticamente sozinho todo o trabalho de cuidar dos ninhos.
Cartilha
Recentemente, o Idema elaborou a cartilha “Boas práticas para conservação de tartarugas marinhas - Área de Proteção Ambiental Bonfim-Guaraíra”. O material, disponível em formato digital no site idema.rn.gov.br, reúne conteúdo a respeito de desova, eclosão de ninhos, período de reprodução, trabalho de monitoramento, ameaças, os procedimentos corretos ao encontrar uma tartaruga marinha, os principais telefones para contato, entre outros.
A Cartilha é uma elaboração do Núcleo de Gestão de Unidades de Conservação do Idema, a Fundação Projeto Tamar, ONG Oceânica, Centro Tamar/Icmbio, Instituto Biodiversidade, Prefeitura Municipal de Tibau do Sul e Prefeitura Municipal de Nísia Floresta.
- Sonoras e imagens de apoio neste link:
https://drive.google.com/drive/folders/1DXqK1z0JBt2xuc1koMtKwhFP5fUJcrJF
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